Postagens

O tom da insônia

Imagem
D epois de horas de insônia, quando o cansaço realmente bate e o sono expira, percebo que tudo tem um tom. Cada batida variante de altura a intensidade, cada clique e tique do relógio a marcar mais e mais horas, tempo e tempo, sono e sono, vida e vida. Vida e fim. E a cada tique parecia que eu em agonia era obrigado a olhar ainda mais para o teto preso ao meu mundo de pensamentos, que como todo outro som tem tom. E o escuto, fragmentado e a ressoar na mente, cada pensamento borbulhante e tremeluzente que me cega, cada reação química, cada lapso do meu próprio tempo em pensamento. Para outros, horas, para mim séculos. Séculos de mim mesmo em mim. Em um mundo meu, pensando em cada passo que fiz cada acerto e feito ou erro. Tudo, o que me faz e que me permiti me chamar de eu. Partes incoerentes, pedaços de um todo espalhado que em síntese, sou. Que misturadas e embaralhadas tentam criar algum significado, tudo para mim. Porque, no fim, realmente era eu. Nesse ...

Vida

Imagem
No meio da tempestade, uma pessoa grita. Uma única explosão de ímpeto de sentimentos que transbordam e se sobressaem inaudíveis no temporal. Uma carga de voz que sai inescrutável diante do barulho do caminho. Ele, porém, continua caminhando. Um passo por vez, nada além disso. Seus olhos não conseguem ver o longe futuro. Ele, naquele estado, só consegue ver o segundo a sua frente, nada mais. Ele continua. Suas mãos encolhidas perto do peito. Uma delas a segurar e a outra a proteger uma pequena chama, labaredas minúsculas que cintilam e dançam diante de sua mão. Perto do coração elas se misturam com o próprio órgão e pulsam freneticamente, duas batidas por vez. Batida a batida e se sobressaem. Porém, a bela chama diminui sua intensidade. A tempestade continua frenética, gotas que se lançam a terra em um único respirar, abraçando-a. A chuva não para, pelo contrário, continua numa torrencial, como se as nuvens negras se desfiassem e, lançando seus fios a terra, permane...

A Prisão de Cronos

Imagem
Ando com passos largos ao redor do meu cubículo, a minha cela. Logo canso, não havia lugares para ir e nem coisa alguma a ser feita, somente o puro nada. Depois de vã tentativa de um mísero entretenimento, me sento no chão frio. As paredes são feitas de rochas solidas e negras, blocos intransponíveis. Tudo é coberto com uma sombra quase palpável, a não ser pelo único filete de luz que escapa de uma janela. Um único bloco esquecido de ser colocado e que para mim era o mundo. Me levanto e, me aproximando da janela, olho para o outro lado. Além do meu mundo, quase em um universo diferente, vejo o ônibus a passar, as pessoas a correrem apressados para o trabalho, enquanto se desviam de mim. Pois também corro dessa forma. Neste momento corro com nunca antes, não me atrevia a perder o ônibus e nem poderia já que tenho aula para assistir, depois trabalho e, quando em casa, coisas a serem feitas. Não havia tempo a ser perdido ou desperdiçado. Algumas pessoas dão o lugar a passagem,...

As estrelas brilham

Imagem
E as estrelas brilham, com suas fagulhas límpidas incendeiam vidas, que pautam superiores em seus temores. Brancas, belas! Figurando em quadros amarrados de vida e sorrindo, silenciosas elas brilham. Nada mais, simplesmente brilham, como óperas cintilantes que rodeiam em um turbilhão de vida. São essas estrelas que enquadram em um quadro, pontilhadas em um fundo preto. Transcendendo os seus raios em direção a galáxia, de maneira diversa, esticando-se visualmente a mundos distantes. Rodeando a vida em brilho, desnorteando a trevas. Em compulsões de batidas rítmicas de luz. Corações pulsantes de calor e energia. Senhoras inestimáveis do ser, do viver, da alegria e do mistério. Rainhas do desconhecido e ainda assim mestras do curioso. Olhadas por todos em seu palco azul, ribombando silenciosas na doce abóboda celestes. Estrelas, o que mais guardam para si? Segredos imensuráveis da doce existência primordial. Quantos dias elas hão de ver? E quantas delas já co...

Estrelas e nós

E as estrelas brilham Pontilho luminosos Eternos alaridos, Sorrisos, De quem muito viram, vidas. Choraram e riram E aos homens, Diz, Quê simples! As estrelas brilham.

Sorrio e rio

Sorrio, mesmo com lutas e dificuldades. Luto, a melhor das lutas e, quando canso, simplesmente, sou rio e fluo pelas correntezas da vida.

Razões

O que fazer? Quando não há o que dizer Quando a palavra se perde E a realidade emudece. Quando tudo o que há é o ar Quando tudo que se faz é pensar Quando se perde a razão E o que sobra é a emoção. Quando o pensamento transcreve E a vontade confunde Quando o sorriso reluz E o pensamento traduz. Quando há um furacão de sentimentos E uma loucura de intentos Sendo o tempo uma leitura No meio de uma folha com rasura. Então o som alveja E o homem veleja E a razão maneja E tudo, com tudo, peleja. A mente rápido pensa Mas mesmo assim lenta Tudo a mente floresce Porém nada cresce. Como uma folha riscada Mas ao mesmo tempo intacta Cheias de diversas coisas Todas acumuladas e soltas. E no final de tudo Simplesmente viva E sorria E nesse fim nem precisa de rima.