A Prisão de Cronos


Ando com passos largos ao redor do meu cubículo, a minha cela. Logo canso, não havia lugares para ir e nem coisa alguma a ser feita, somente o puro nada. Depois de vã tentativa de um mísero entretenimento, me sento no chão frio. As paredes são feitas de rochas solidas e negras, blocos intransponíveis. Tudo é coberto com uma sombra quase palpável, a não ser pelo único filete de luz que escapa de uma janela. Um único bloco esquecido de ser colocado e que para mim era o mundo.

Me levanto e, me aproximando da janela, olho para o outro lado. Além do meu mundo, quase em um universo diferente, vejo o ônibus a passar, as pessoas a correrem apressados para o trabalho, enquanto se desviam de mim. Pois também corro dessa forma.

Neste momento corro com nunca antes, não me atrevia a perder o ônibus e nem poderia já que tenho aula para assistir, depois trabalho e, quando em casa, coisas a serem feitas. Não havia tempo a ser perdido ou desperdiçado. Algumas pessoas dão o lugar a passagem, passo por elas sem olhá-las no rosto, não havia tempo. Aquilo era rotina naquela cidade movimentada, nessa existência difusa e confusa.

Levanto o pulso e olho para minha prisão, olho para mim mesmo acorrentado na cela negra, sua mão ou minha mão com uma forte corrente ligando o pulso as paredes negras. O tic tac quase como um repique a ressoar as lamúrias do fim.

Olho ao redor, todos também estão presos. Cada um com os grilhões no pulso. Essa é fatalidade, é impossível fugir ou escapar. Por isso, temo. Temo pelo tempo que escorre por entre os dedos, cada segundo e minuto e fim.

E, no fim, o que mais me preocupa é ser somente mais um prisioneiro a olhar o mundo pela janela, entre as brechas dos ponteiros.

Imagem de Pavlofox por Pixabay

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