Salto existencial - Parte II
2. Desprendimento.
Entro cansado no quarto, a porta
meio aberta deixa passar uma meia luz do corredor para dentro do pesado
recinto. Sem muita coragem jogo a bolsa em algum canto e me sento na cama.
Cabeça pesada, olhos doídos, sentimentos ruins.
No fim, a bolsa não permanece no mesmo lugar. Por obrigação, pego-a,
abro os livros e cadernos. Outra atividade, mais trabalhos.
Infelizmente, não posso admitir
minha total atenção, o pé batia apreçado no piso e os olhos teimavam a pular
para qualquer detalhe banal que surgia pelo cômodo, desde a leve poeira que se
acumulava na quina à pequena rachadura na parede, uma cicatriz cinza no azul
claro que a envolve.
Por fim, sem mais aguentar, jogo
a cabeça por sobre a cama. Fecho os olhos, leve. Sinto o calor do quarto
abafado, já que é um pequeno apartamento para universitários. Minhas roupas
ainda estavam um pouco suadas, tive que andar alguns bons metros. Aos poucos,
sinto como se minha mente beira a ao vazio, meus sentidos vão aos poucos se
perdendo, passando. Como se eu desgrudasse de meu próprio corpo e parasse de
sentir as coisas ao redor, tudo isso, a não ser pelo barulho de vento que
insistia em continuar chegando ao incomodo.
Espera, que vento? Me levanto já
meio assustado. Imediatamente uma rajada de vento me acerta. Abro os olhos, de
imediato relembro os momentos do dia anterior, mesmo prédio, mesma vista. Me
levanto lentamente, aos poucos, meu estomago se revira. Respiro fundo para não
ter que vomitar, feito concluído.
Ainda meio sonolento, vou me
focando. Olho a cidade em êxtase, movimento e vida em picos relutantes. A noite
a cidade brilha a rivalizar com as estrelas no céu, apartamentos inteiros a
fazerem sinfonia de cores, arranjos musicais de luzes e um espetáculo de vida
vibrando aos olhos. Pena que diante da festa não se vê as estrelas.
Não tenho muito mais tempo para
observações, sinto como se um vazio no peito gritasse e me puxasse ao seu
encontro. Cansaço, sinto como se fosse dobrado ao meio enquanto que o mundo se
desmancha aos meus olhos mudando, diminuindo.
O mundo escurece diante dos
olhos, em seguida, embranquece e aos poucos pontos luminosos brilham no rosto.
Sinto uma gastura subindo pela barriga, acompanhado de um coração palpitante e
uma respiração ofegante.
Eu saltei, disso eu sabia, o
grande problema era que eu não queria e nem planejava isso. Junto com o coração
acelerado surgia o medo, eu poderia estar em qualquer canto e canto nenhum.
Finalmente olho ao redor. Estava em um beco de alguma rua movimentada no lado
de fora. Dou alguns passos em direção à rua, porém, antes que eu possa sair,
sinto as mesmas sensações de antes, como se meu corpo se desligasse do mundo.
Como se o rádio tivesse sido ligado e a sintonia com o redor não fosse
alcançada.
Um novo pulo, em um outro canto,
qualquer lugar. Não. Fecho os olhos com força, fecho e abro a mão, me acalmo e
tomo o controle de mim mesmo. Ao me controlar e abrir os olhos, ainda estou no
mesmo quanto. Por sorte, vivo.
Continuo caminhando até sair para
a rua. Nela, vejo diversas casas coloridas, aglomeração de pessoas a comprar e
vender e a gritar em uma língua que não entendo. Ao redor, vejo um mercado
agitado. Com prédios coloridos e símbolos estampados, chinês, provavelmente.
Bom Saber, estou na China.
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