Quando chove
No princípio, era escuro. Então,
choveu. Começou fraco, gotinhas soltas contra o telhado, pequenas e tímidas. Esse
foi o começo. Conforme os minutos seguiam, ela deixou de ser acanhada e sorriu
mais, deu olá para o teto, ruas, avenidas e riu.
Primeiro eram batidas separadas,
rareadas. Depois, mais e mais. Porém, o garoto na cama escutou desde o seu
começo. Naquela noite, não dormiu direito. Permaneceu acordado, com o olhar no
telhado, mesmo que não o visse. Talvez fosse cansaço, não sei. De quê? Pergunta
a si.
Ele respira fundo, a noite é dos
vagabundos e poetas, mesmo que ele não seja nenhum dos dois. Sem muito o que
fazer, fecha os olhos e escuto. Aí, começa o negro, seus olhos fechados,
depois, a sinestesia de tudo.
No escuro, ele via os pingos no
telhado, quase nele, acho que alguns realmente estavam. No escuro, a cada
pingo, pintava de uma cor. Ele via os pingos caírem e sentia seu choque. Imagens
borbulham na mente, abstratas. Mudanças de cores e sensações, aquilo era bom. Só
parar, desacelerar e ouvir.
Não sei se é a forma mais
interessante de se começar uma crônica, mas não tenho outra ideia de começo, ou
de fim, já que quase acabara. Só sei que quando se quer começar um assunto,
fala-se de tudo, desde o calor, sol ou chuva, quem o diga Machado.
Na verdade, gosto da crônica e
como ela faz esse ar especial dela. Enfim, não preciso de muito mais coisas.
Sem dramas épicos, reflexões existenciais, só a chuva no teto e o garoto a
pensar.
Perdão, não acredito que ele
precise de mais coisa, nem nós.
Comentários
Postar um comentário