Bamba corda
O vento batia forte em
seu rosto trazendo a poeira e lhe desconcentrando. Suas pernas doíam, quase
como se fossem de metal. A linha fina machuca a planta de seu pé com uma dor
aguda, constante. Cansaço, se houvesse uma palavra para definir tudo isso seria
essa. Ele dava mais um passo, só mais um, depois outro. Ele já sentia a linha
vermelha que se formava no pé.
O pior não era a dor,
nem o vento que não cessava de se chocar contra sua face, nem suas pernas quase
de manteiga e nem falando da altura que continuava a chama-lo para um abraco,
um último de despedida. Um fim. O pior eram os ovos que ele carregava na mão.
Vários pelo corpo. Cada passo fazia pressão contra eles, porém não
poderiam ser quebrado, ele não poderia quebra-los. Tinha que segurar, tinha que
se quebrar antes. Fazer seu corpo arder, eles não.
Seus olhos se voltam
ao precipício a escutar o augúrio do vento nas rochas, a cantar uma melodia
trágica, canções ocas e ecoadas, lamúrias de uma altura onde o chão não era
visto.
Seu peito arfava
rápido e o coração dançava no peito. Suas mãos ardiam, mas ele não apertou, não
podia, ao menos tentou. Era coisa demais, passos demais, frio demais. Seus
olhos quase se fecham, ele está cansado. Quase escorrega, mas se firma, se é
que se pode firma em uma corda bamba em um desfiladeiro. Talvez pudesse, mas no
caso dele foi sorte.
Talvez tenha sido
sorte, do tudo ou o nada, de ter aguentado até ali. Mas, ele prosseguiu tentando. Não
havia forças e ele continuou. Passo a após passo. Metros a cumprir, metas a
realizar, pessoas a reconhecer, sonhos a concretizar e tudo ou nada.
Por que sempre tem que
ser tudo ou nada? Ser ou não ser? Há de ter uma escolha, ao menos era o aquilo
que ele queria, ansiava. Talvez não fosse o ideal. Mas era o que ele queria, o
que ele pedia. Enquanto caminhava, o cansaço sacudia e seus olhos
manchavam, deve ser a poeira.
Ele prossegue, antes que caia. Antes que último toque do sino se ecoe. Antes do fim escrito de negrito.
Ele prossegue, antes que caia. Antes que último toque do sino se ecoe. Antes do fim escrito de negrito.
Fim
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