O grande tambor no peito
Os tambores tocavam frenéticos, batidas duplas sequenciadas.
Misturados, eclodiam e se espalhavam. Passo após passo, se confundindo na
multidão. Mais e mais pessoas passam, numa correria intensa, vidas corridas e
talvez não muito vividas, quem sabe. Cada um com seu tambor na grande metrópole,
na correnteza do rio humano que deságua nas ruas e se espalha pela cidade.
Epifania! Uma pessoa para. Uma única vida para no meio do maquinário
urbano. Seus olhos percorrem o ambiente, seus ouvidos atentos escutam os
barulhos ressoando. Carros e a gritaria de uma cidade agitada, talvez um pouco demais.
Cada pessoa no seu mundo correndo pelas incertezas, guiados pelos tiques dos
relógios em sua fome desenfreada do consumo, alguns chamam de busca pela
felicidade. Porém, talvez seja somente o gosto pelo preenchimento.
Felicidade, uma palavra engraçada. Todos a procuram, a
cidade está cheia dos intrépidos exploradores. Uma caçada mortal pela alegria.
Porém, na cacofonia da cidade, uma única pessoa, outra engrenagem do
equipamento, vislumbra a si mesma. Talvez, só talvez, o fluxo constante de
pessoas em suas rotas para o trabalho e para a casa. Só talvez, no meio de
tanta procura pelo bem-estar não percebam a grande verdade. A verdade que uma
formiga no meio do formigueiro descobriu.
Quem sabe. A coitada pessoa olha, não para os carros e para
as motos, esquece o movimento e presta a atenção no próprio tambor em suas batidas
duplas. Sua mão no peito, o calor que corre e percorre. Ele olha ao redor e
descobre uma resposta, ele já tem.
Ele volta a andar pela multidão, não em busca da felicidade.
Ele já a tem. Ele anda, não para tê-la, mas sim por já tê-la, anda. Tudo o que
ele tem, o que já fez, o que já viveu. A chama em seu peito, vida.
Ele achou uma resposta, talvez esta não sirva a outros, mas
a ele serve. Ele já a tem, em cada espaço. Felicidade que reside entre as
batidas duplas do tambor, vida. E quando o som do tambor para de ser escutado,
ela ainda estará lá, além.
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